Artesanato do Maranhão

Destaques

Tambores e pandeiros

Jandir Gonçalves

O tambor em sua grande diversidade é utilizado largamente nas atividades culturais e religiosas no Maranhão.

Muitos são os tipos de caixas de ressonância com encouramento simples ou duplo, nas quais utiliza-se peles de boi, veado, cobra, bode, camaleão, dentre outras. Os tambores podem ser acompanhados de uma variedade de outros instrumentos musicais para contemplar o som que se faz necessário para uma brincadeira ou celebração.

Os tambores costumam ser feitos com madeira ocada, encontrada na mata sem o âmago. Quando não encontrada, é dada preferência a madeiras que aceitam melhor o entalhe ou escavação, feita manualmente com o enxó ou com fogo. Nos últimos tempos alguns artesãos têm utilizado canos de PVC na confecção de tambores.

O encouramento é feito com a utilização de tornos de madeira, com aro e tarraxas de ferro ou com as cordas dispostas no corpo. A afinação dos tambores pode ser feita no fogo ou com as tarraxas. Muitos artesãos trabalham somente no encouramento/ cobertura de tambores e pandeiros, que tem suas variações de voz de acordo com o tipo e espessura do couro.

A confecção de tambores foi identificada em 55 municípios dentre os que já foram mapeados. Essa expressiva presença é um sinal da vitalidade cultural das diversas regiões do estado.

Tambores e pandeiros do Bumba Meu Boi

É provável que o Bumba Meu Boi seja a brincadeira que utiliza, em seus vários ritmos, a maior diversidade de tambores e a maior quantidade de exemplares para compor sua batucada. Os tambores mais comuns de se encontrar são a zabumba, a marcação, a caixa, o tamborete, o bombo, o tambor onça e a ritinta ou riquinta. A marcação é o maior deles e o tambor onça ou roncadeira, de som grave como o nome sugere, é próximo ao tambor chamado de cuíca, que tem o som mais fino e é utilizado no Carnaval. Em algumas regiões do Maranhão chama-se cuíca, o instrumento que equivale ao xequerê ou cabaça.

Os tambores do Bumba Boi, com exceção do onça, são tocados com baquetas ou vaquetas que tem uma cabeça coberta com tecido para preservar o couro. Os tambores menores, como a ritinta e o tamboreto ou tamborete, podem ser tocados com varinhas ou baquetas finas.

Zabumbas

A zabumba tem tamanhos distintos conforme o ritmo do Bumba Boi. O chamado Boi de Zabumba, nascido em Guimarães e considerado o ritmo mais antigo da brincadeira, utiliza a zabumba de cocho ou tambor de fogo, mais alta, com encouramento somente de um lado e que utiliza uma estaca de apoio para ser tocada com uma baqueta.

Pandeiros

A variedade de pandeiros no Bumba Boi também é grande: pandeirão; pandeiro de costa de mão, pandeirinho ou pandeirito; adufe (pandeiro quadrado) e o V 8, que corresponde ao pandeirão, mas seu formato é quadrado.

Tambor de Crioula/ Tambor de São Benedito

O Tambor de São Benedito, Tambor de Crioula ou simplesmente Tambor é uma das manifestações mais presentes e espraiadas no território maranhense e um elemento de afirmação da identidade de muitas comunidades negras. É registrado como patrimônio cultural do país. Nele são utilizados três tambores, cujos nomes variam um pouco de acordo com a região: tambor grande; tambor meião ou socador e tambor crivador, também chamado de quiribador, pererenga, quereré, mexeriqueiro ou mixirica. 

O conjunto de tambores do Tambor de Crioula, do Tambor de Taboca ou do Tambor de Mina é chamado de parelha e envolve três tambores com vozes distintas. Em geral o tamborzeiro que executa tanto para o Tambor de Crioula como para a Mina, embora haja variações entre eles.

Na região do Litoral Ocidental Maranhense as tabocas (tambor de taboca) são tocadas em parelha formada por duas peças, fazendo conjunto com os demais tambores.

Caixas: do Divino e de outras manifestações

Os festejos ao Divino Espírito Santo utilizam caixas em quantidades variáveis conforme a região, que soam com a batida de baquetas finas. Na Baixada Maranhense, por exemplo, as Turmas de Caixeiras usam sempre grandes conjuntos, com de dez, vinte, trinta caixas batidas em uníssono. No centro e leste do estado, costumam usar duas caixas ou uma caixa e uma rabeca, uma caixa e um violão, uma caixa e uma sanfona, três caixas ou ainda uma caixa com um violão e uma rabeca. 

As caixas, em geral, são produzidas em madeira ou flandres, com arco de madeira, cipó ou PVC. Possuem tamanhos e afinações diversas. A caixa traz em sua na parte inferior um maracá ou chocalho, formado por contas, botões, canhão de pena de pato ou sementes, que vibram com a batida. As cordas cruzadas no corpo da caixa são utilizadas para afinação.

Desacertadamente se generalizou o nome caixa do Divino para este formato de caixa. No entanto, ela também está presente na música que outros santos gostam, como Nossa Senhora da Conceição, em Santa Rosa dos Pretos (Itapecuru Mirim); Santa Teresa em Itamatatiua (Alcântara); Nossa Senhora do Rosário, em Rampa (Humberto de Campos); São Sebastião, em Porto de Areia (Tutóia); São Sebastião, na sede de Caxias e outros. As caixas também estão presentes no Forró de Caixa, também chamado Lelê de Caixa, Forró do Espírito Santos ou ainda Terecô de Caixa. E também aparecem em muitas outras brincadeiras, como o Salambisco, o Carimbó, o Caroço, o Bambaê. 

Tambores de Carnaval

O Carnaval com suas Turmas de Samba, Escolas de Samba e Blocos Tradicionais também apresenta seus próprios tambores, alguns compartilhados com outras brincadeiras: tamborim, marcação, tarol, tantã, 3x1, duas por uma, três por uma, ritinta, terereco, peneira, abafador, repique...   

Outros tambores...

Existem ainda outros tambores utilizados em menor escala como os tamborinhos, em conjunto de três ou quatro nas brincadeiras do Tamborinho em Cururupu, Presidente Sarney e Pinheiro; o tambor zabumba, usado no Reisado e no Baião na cidade Caxias; o contratempo, usado nos Blocos Tradicionais do Carnaval de São Luís, os atabaques da Capoeira...

Tambores religiosos

Nas religiões de matriz africana são utilizados o batá ou abatá, também chamados de guia e contra guia. Estes tambores têm encouramento dos dois lados e são usados na horizontal sobre cavaletes. O Tambor da Mata, que compõe a parelha, pode ser muito alto, é tocado em pé ou cavalgado.