Artesanato do Maranhão

Destaques

Miniaturas de embarcações

Jandir Gonçalves e Paula Porta

A farta presença das águas no Maranhão – entre mar, rios e lagos – explica a grande diversidade de embarcações tradicionais criadas e produzidas no estado, considerada por muitos a maior do planeta. A produção de miniaturas de embarcações reproduz essa diversidade e as variações regionais.

Dentre as embarcações típicas destacam-se, pela maior presença, a canoa costeira - também conhecida como cúter ou cara chata; o bote, a biana, o iate, a lancha, a canoa boca larga, a taroa (catamarã e trimarã) e o bastardo (boião). Presentes no ambiente salgado, há também a camaroeira, a esfola, o jangado. E uma série de outras embarcações específicas do salobro, das águas doces lacustres e fluviais, como a canoa de um pau, também chamada de ubá/ coxo, casco, casquinho; a canoa de três tábuas, a canoa de cinco tábuas, a canoa de sete tábuas, a gambarra. Também estão presentes em território maranhense embarcações características do Pará, do Ceará ou de outras regiões como navio, escuna, jangada, voadeira, veleiro. A especialização e excelência dos carpinteiros navais maranhenses é reconhecida, produzem para clientes dentro e fora do país.

A grande presença das águas no cotidiano dos maranhenses e de habilidosos carpinteiros navais favorece a produção das miniaturas de embarcações.

Diferentes motivos levam à produção dessas miniaturas. O principal deles é lúdico, adultos e crianças brincam com elas quando as águas estão propícias, organizando corridas. A relevância dessa brincadeira pode ser atestada pelas corridas e pófias/apostas que ocorrem durante a Regata da Independência na praia do Outeiro, em Cedral, que reúnem muitos participantes.

As miniaturas também aparecem em festividades de São Pedro, São Sebastião, São José, Bom Jesus dos Navegantes (em Repartição, Brejo), são usadas nos andores que levam os santos, como ex-votos para pagamento de promessas, como joias nos leilões presentes nesses festejos, como barquinho de procissão.

Muitas miniaturas destacam-se por incluírem detalhes tecnológicos como bita, giba, pau da giba, béquer, leme, pique, retranca, mastro, mastaréu, malhete, insalsa, blandais, estais, bolacho, verga, escolta, cruzeta, linha d´água, cadarço, cabeço, grinalda, moitão, espicha, gemoa. Esses detalhes, além da fidelidade de formas e proporções, conferem às peças o caráter de modelismo.

Há também uma produção de miniaturas voltada para a decoração e para lembranças de viagem, comercializadas principalmente em São Luís, nas festas, nas feiras e em lojas de artesanato.

Adultos e também crianças produzem miniaturas e brincam com elas nas águas doces ou salgadas. As embarcações destinadas para corrida podem ser à vela ou conter um pequeno motor.

O tamanho das miniaturas já encontradas vai de 10 cm a 150 cm.

Para confecção das miniaturas, os artesãos utilizam principalmente as madeiras disponíveis na região, sendo a paparaúba a mais comum. Cajueiro, cajá, pau brasil, maçaranduba, visgueiro, cortiça, cedro, pente de macaco, tamboril, sumaúma, jamelina também são utilizadas com frequência. 

Depois da madeira, o material que se destaca é o talo/ braço/ pecíolo do buriti, material leve e flutuante, fartamente presente em algumas regiões e que é usado ao natural ou lixado e masseado para acabamento mais detalhado.

O isopor é o terceiro material mais encontrado, em geral é empregado nas embarcações destinadas a corridas e outras brincadeiras. Mais raros, foram encontrados também materiais como raiz de araticum, capemba de coco macho e palitos (de fósforo, de picolé, de churrasco).

A produção de miniaturas de embarcações foi identificada em 51% dos municípios já mapeados. Mais de 200 artesãos produzem algum tipo de embarcação. Raras são as mulheres que se dedicam às miniaturas, predominam os homens.

A região que mais produz miniaturas de todos os tipos e para todas as finalidades é o Litoral Ocidental, a faixa que vai de Alcântara até Carutapera concentra grande número de artesãos e também de carpinteiros navais. Em seguida, com número bem menor de artesãos vem a Baixada Maranhense, depois o Litoral Oriental (de Icatu a Tutóia) e a região do Munim. Foram encontrados artesãos de embarcações em 46 municípios.

Litoral Ocidental e Gurupi

Em Cururupu foi encontrado o maior número de produtores de miniaturas de embarcações. São 21 artesãos, a maior parte deles estabelecida na sede, mas presentes também em oito povoados e ilhas. Em seguida, vem os municípios de Cedral, Turiaçu, Porto Rico do Maranhão, Apicum Açu, Cândido Mendes e Carutapera. Em menor número há artesãos de miniaturas em Alcântara, Bequimão, Guimarães, Luís Domingues, Godofredo Viana, Maracaçumé, Maranhãozinho e Amapá do Maranhão.

Cururupu

Em Cedral foram identificados 16 artesãos que produzem peças em madeira, talo de buriti e isopor. O povoado Pericaua reúne a maior parte dos artesãos de miniaturas, muitos deles são carpinteiros navais. No povoado Outeiro, a Regata é realizada há mais de trinta anos e movimenta o setor de embarcações. Também há artesãos nos povoados Maranhão Novo e Paraty.

O município de Turiaçu também é forte na produção de embarcações, foram encontrados 16 artesãos que produzem miniaturas na Ilha de Santa Bárbara, no Porto Santo, na Praia de Cunhã Coema e na sede.

Em Porto Rico do Maranhão foram encontrados 11 artesãos de miniaturas, entre a sede e os povoados Cateua e Rio Grande.

Apicum-Açu é outro centro de produção de embarcações e de miniaturas de embarcações. Foram encontrados 11 artesãos em atividade na sede e nos povoados Caruaru e Turirana.

Em Cândido Mendes foram localizados 10 artesãos, a maioria utiliza madeira, alguns o talo de buriti e poucos o isopor. O povoado Estandarte é um núcleo de produção de embarcações e de artefatos náuticos, também há artesãos em Centro do Jota, São José do Português e na sede.

Carutapera também reúne grandes modelistas navais, que trabalham principalmente com a madeira, estabelecidos na sede e nos povoados Praia de São Pedro e Ilha de Fora.

Em Godofredo Viana as miniaturas são feitas em madeira.

Em Guimarães os artesãos produzem as miniaturas utilizando o talo/ braço do buriti.

Alcântara é um reconhecido centro de carpintaria naval, que produz embarcações para todo o país e também para fora. A sede e o povoado São João de Cortes são núcleos de produção que reúnem vários carpinteiros navais, alguns também produzem miniaturas das embarcações. Além dos carpinteiros navais, há outros artesãos que têm as miniaturas como especialidade.

Baixada Maranhense

Na Baixada Maranhense foram encontrados artesãos de miniaturas em Bacurituba (Beira de Costa), Arari (sede), Igarapé do meio (Laje Comprida), Matinha (sede), Monção (Santa Rita), Penalva (sede), Pinheiro (sede), São Bento (sede), São João Batista (sede) e Vitória do Mearim (sede).

Litoral Oriental

No litoral oriental trabalham com miniaturas artesãos de Icatu (sede, Baiacuí, Pedro Gonçalves, Salgado, Santa Maria de Guaxenduba), Humberto de Campos (sede, Periá), Primeira Cruz (sede, Ilha Areinhas), Barreirinhas (sede, Marcelino), Santo Amaro do Maranhão (Betânia, Boa Vista), Paulino Neves (sede) e Tutóia (sede, Barro Duro, Bom Gosto).

Munim

Na região do rio Munim há artesãos de miniaturas em Axixá (Cedro, Iguaperiba, Sapucaia), Icatu (sede, Caiacuí, Salgado), Morros (sede, Pacas do Maçal), Presidente Juscelino (sede, Juçaral dos Pretos, Vila Nova) e Rosário (Pirangi 1, São Miguel).

Outras regiões

Foram encontrados artesãos dedicados às miniaturas também em Pindaré Mirim (sede), Santa Inês (sede), Caxias (Buriti do Meio, sede), Barão de Grajaú (sede), Jenipapo dos Vieira (Aldeia El Betel), Magalhães de Almeida (sede), Buriti (sede), Milagres do Maranhão (Patos), Santana do Maranhão (São Gonçalo) e São Bernardo (Nova Esperança, sede).