Artesanato do Maranhão

Destaques

Vassouras

Jandir Gonçalves e Paula Porta

Implemento utilizado cotidianamente para varrer, escovar ou esfregar áreas internas e externas, as vassouras, espanadores e vasculhadores ou vasculhantes (de cabo comprido, usados para varrer teto ou telhas) destacam-se na produção artesanal do Maranhão por serem produzidas na maioria das cidades (mais precisamente em 80% delas), pela diversidade de materiais utilizados e também pela estética, muitas delas recebem pequenos detalhes que tornam bonitos esses objetos tão corriqueiros e mostram capricho dos artesãos.

Dependendo da finalidade e do material de confecção as vassouras podem ter cerdas duras, macias, longas ou curtas. Os cabos, que também variam de tamanho de acordo com a finalidade, são geralmente de madeira linheira (bem reta) extraída nas proximidades das áreas de produção ou vinda de fora no caso de produção em maior escala, a taboca também é utilizada. Em muitos casos as vassouras são vendidas sem o cabo e facilmente encaixáveis em um cabo pré-existente, que tem vida mais longa do que as cerdas. Os vasculhadores, além do cabo longo, têm tamanho maior que as vassouras e suas cerdas são desalinhadas. Já os espanadores costumam ser menores que as vassouras e ter cerdas mais macias. As belas vassourinhas foram encontradas em palha de carnaúba e em linho de buriti (a fibra mais fina da extraída da folha da palmeira), costumam ter em torno de 20 cm e são usadas em móveis ou para limpar a mesa de refeição.

As vassouras ou bassouras são vendidas por unidade, par, meia dúzia, dúzia e fardos com cinquenta ou cem unidades.

Os diversos tipos de vassouras são produzidos tanto por mulheres como por homens, que dominam todas as etapas da produção: a extração do material, o beneficiamento (corte, descascagem, secagem, desfiação, corte etc.), montagem, amarração ou costura, corte de alinhamento das cerdas, encabamento. Grande parte dos artesãos e artesãos realiza só todas as etapas de confecção. É comum encontrar a produção feita por casais ou famílias.

Os acabamentos das vassouras maranhenses chamam atenção, além da beleza, conferem características locais às vassouras: diferentes costuras, uso de cores tingindo a palha, trançados ou pequenos cestinhos contendo as cerdas. As costuras em geral são feitas com material distinto: cordinhas, fios, cordões, barbante sintético, talas de guarimã etc.

Os indígenas guajajara e canela também produzem vassouras, utilizando principalmente a palha de buriti e de tucum.

Há povoados que são especializados na produção de vassouras com diversos artesãos dedicados a essa produção. As vendas são feitas para outras regiões maranhenses, para o Piauí e o Ceará. Nesses locais a vassoura é a principal fonte de renda dos artesãos. Em muitos casos a produção envolve diversos membros da família, com uma divisão de tarefas entre extração do material e a confecção.

As vassouras mais presentes no Maranhão são as confeccionas com a palha das palmeiras, principalmente da carnaúba e do babaçu, mas também do buriti, da juçara e do tucum. 

Há também as vassouras rústicas feitas com galhos de arbusto conhecido por relógio, bastante utilizadas para limpar ambientes de festejos e quintais.

Algumas vassouras têm uso exclusivo para determinadas ações como é o caso de exemplares feitos aqui e agora para com galhos de folhas verdes da planta mais próxima para a retirada da brasa de fornos onde serão assados bolos ou carnes em festejos.

CARNAÚBA

A carnaúba é o material mais utilizado para confeccionar vassouras no Maranhão. São produzidas em maior escala, inclusive para venda em atacado, e estão presentes em 33% dos municípios que já foram mapeados.

Da folha da carnaubeira são utilizadas tanto a palha, como o linho, que é a fibra mais fina extraída da folha antes de sua secagem.

Há povoados especializados na produção de vassouras de carnaúba, que representa a principal fonte de renda das famílias. Até o momento foram identificados três:

Boa Vista (Santo Amaro do Maranhão)

Situado em meio a um vasto carnaubal, o povoado é conhecido pelo artesanato da carnaúba de modo geral. As vassouras são produzidas em maior escala e vendidas em fardos de até 100 unidades para outras regiões do estado, para o Piauí e para o Ceará. A extração descontrolada, realizada por forasteiros em busca do pó das folhas da carnaubeira, representa uma ameaça aos artesãos, com o escasseamento da matéria-prima grandemente desperdiçada na extração do pó em escala.

Jussatuba (Anajatuba)

A produção de vassouras no povoado envolve algumas famílias e constitui a principal fonte de renda para elas. As vassouras de Anajatuba tem uma bela costura feita com a própria palha da carnaúba.

Nova Olinda (Brejo)

O povoado é maior produtor de vassouras do Baixo Parnaíba, vende para toda a região e para o Piauí.

As vassouras de carnaúba também são produzidas em Água Doce do Maranhão, Araioses, Arari, Bacurituba, Barão de Grajaú, Buriti, Buriticupu, Cajapió, Caxias, Codó, Itapecuru Mirim, Magalhães de Almeida, Milagres do Maranhão, Paraibano, Paulino Neves, Primeira Cruz, Santa Quitéria (linho e palha), Santana do Maranhão, São Bernardo, São Francisco do Maranhão, Sucupira do Riachão, Timon e Tutóia (linho e palha).

BABAÇU

Do babaçu são feitas vassouras do talo da folha, da palha e, principalmente, do chincho, que é o segundo material mais empregado na confecção de vassouras no Maranhão. As vassouras de chincho foram encontradas em 27% das cidades já visitadas.

Vassouras de chincho/ caranã de babaçu

O chincho é um equivalente da piaçava, são os fiapos extraídos da casca/ caçamba do palmito localizado na junção da folha com o tronco, área do “coração da palmeira”. O palmito é usado para alimentar animais, as cascas descartadas são aproveitadas para a extração dessa fibra, que é penteada numa espécie de escova de pregos, separada em pequenos molhos e então dobrada, amarrada e cortada, formando as vassouras.

O chincho varia de nome conforme a região: caranã, barbante de palmito, embira de palmito, embira de babaçu, barbante de babaçu.

Há povoados especializados na produção de vassouras de chincho/ caranã em Peritoró e Palmeirândia. 

Santa Maria (Peritoró)

A família Santos dedica-se à produção das vassouras em maior escala, que são vendidas para Peritoró, Pedreira, Barra do Corda, Presidente Dutra e Teresina. As vassouras são amarradas com arame e encabadas com madeira (samonel ou mamuninha).

São Raimundo (Palmeirândia)

A família Cardoso faz as vassouras para venda na região.

As vassouras de chincho também são feitas em Bacuri, Bacurituba, Bequimão, Buriti, Cajapió, Central do Maranhão, Codó, Igarapé do Meio, Matinha, Monção, Olinda Nova do Maranhão, Penalva, Pindaré Mirim, Pinheiro, Rosário, São Vicente Férrer, Serrano do Maranhão e Viana.

Vassouras de talo de babaçu

As vassouras produzidas com o talo da folha da palmeira babaçu cortado em tirinhas foram encontradas em Codó, Itaipava do Grajaú, Palmeirândia e São Bento.

Da palmeira babaçu também se utiliza a palha para a produção de vassouras, elas foram encontradas em Buriti, Palmeirândia, Peritoró e Timon.

BURITI

As vassouras de palha de buriti, também chamada borra (que é a sobra após a extração do linho), são menos comuns, mas foram localizadas em Anapurus, Cedral, Fernando Falcão, Guimarães, Mata Roma, Mirinzal, Paulino Neves, Porto Rico do Maranhão, Santa Quitéria, Tutóia.

As vassourinhas de linho de buriti, aparecem nos lugares em que é forte a produção de outros produtos de linho (como toalhas, bolsas, chapéus etc.), já que são feitas com as sobras desse material nobre, muitas vezes já tingido. As vassourinhas são usadas para varrer móveis, mesa de refeição ou espanar objetos. São produzidas principalmente em Alcântara (Santa Maria), Barreirinhas (sede, Tapuio), Paulino Neves (sede) e Tutóia (Bezerro 1). Também foram encontradas em Guimarães (Ceará) e Porto Rico do Maranhão (Rabeca).

No leste maranhense – nas cidades de Caxias, Codó e Timon – são produzidos vassourões com a ráquis (talo central) de grandes folhas da palmeira buriti, utilizados na limpeza pública das ruas.

JUÇARA

As vassouras de palha da palmeira juçara são mais raras de se encontrar. Foram localizadas apenas em Alcântara, Bequimão e Cedral.

TUCUM

As vassouras de palha da palmeira tucum são produzidas em poucas cidades: Bacurituba, Barra do Corda, Codó, Jenipapo dos Vieira, Peritoró.

Em Codó, o artesão Lucivaldo Alves aprendeu com os indígenas um modo diferente de execução: é feita uma de saia de palha, que é enrolada no cabo, produzindo um belo acabamento.

CIPÓ

Nas regiões dos rios Caru e Gurupi, fronteiriças com o Pará, destaca-se a produção de vassouras de cipó, encontradas em principalmente em Amapá do Maranhão e Cândido Mendes, mas também encontradas em Carutapera, Boa Vista do Gurupi, Centro do Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Godofredo Viana, Governador Nunes Freire, Junco do Maranhão, Luís Domingues, Maracaçumé, Maranhãozinho e Turiaçu. Fora dessa região foi identificada uma pequena presença de vassouras de cipó apenas em Cururupu.

Esta forte presença das vassouras de cipó (confeccionada em 21% das cidades já mapeadas) faz desse material o terceiro mais empregado na produção desses artefatos de varrição.

As espécies de cipó mais utilizadas são o timbó-açu, o timbó e o titica (mais claro). Foram registrados também o uso do cipó guambé em Carutapera, que tem coloração mais avermelhada; dos cipós japanduba, biriba e sapucaia em Junco do Maranhão; do cipó jacitara em Luís Domingues e do cipó andirá em Maranhãozinho.

A grande parte das vassouras de cipó possuem um belo acabamento trançado, que muitos artesãos chamam de caçuazinho, em alusão ao cesto grande de cipó.

TABOCA

A produção de vassouras de taboca é mais rara, foi identificada em Cândido Mendes, Jenipapo dos Vieira, São João dos Patos e Sucupira do Riachão, sendo comum nos lugares em que se produz o jacá do mesmo material.

A taboca é cortada no comprimento em oito partes e deixada murchar antes de ser dobrada para confecção das vassouras.

COCO DA PRAIA

As vassouras de coco da praia utilizam o fiapo/ barbante desfiado da casca do coco. A produção foi identificada nas ilhas de São Lucas, Bate Vento e Caçacueira em Cururupu.

GUARIMÃ

As vassouras da tripa de guarimã, também chamada de entre casca, são feitas com a parte que costuma ser descartada após ser separada da tala, esta usada em peneiras, tapitis, paneiros e muitos outros produtos.

Este aproveitamento da tripa, raro de se encontrar (e poderia ser disseminado nas áreas de produção de artefatos de guarimã), foi identificado em Bacuri (Madragoa), Cururupu (Maioba) e Santa Rita (São José Passanã).

SISAL

A produção de vassouras de sisal foi identificada na sede de Matinha.

TITARA/ TITARRA

A titara é uma planta trepadeira da família das palmeiras, muitas vezes confundida com cipó. Na confecção das vassouras utiliza-se o tronco. As vassouras de titara foram identificadas somente na sede de Alto Alegre do Pindaré.

GALHOS DE RELÓGIO

O arbusto relógio é utilizado para confecção de vassouras rústicas para varrer quintais e áreas externas. As vassouras de relógio foram encontradas em Anapurus (povoado Centro dos Otília e sede) e Mata Roma (povoado Bacuri).

GARRAFA PET

O reaproveitamento de garrafas pet para a produção de vassouras foi identificado nas sedes de Barra do Corda, Buriticupu, Codó, Matinha, Pinheiro e no povoado Soledade em Caxias. As garrafas são lavadas e cortadas em equipamentos manuais criados pelos próprios artesãos.

Vassouras e espanadores de materiais mais raros de se encontrar como carrapicho bravo (vegetação rasteira), fios de saco de cebola e fita de arquear (fita plástica) foram identificados no mapeamento.

O acervo de vassouras adquirido ao longo do projeto MAPEARTE foi exibido na exposição Varrendo (com curadoria de Paula Porta), realizada em parceria com o Centro Cultural Vale Maranhão visando divulgar essa produção.